quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Tal mãe, tal filho e as peraltagens de Manoel de Barros.

No dia 08 de novembro o Giusepe foi para sua primeira formação marista em Curitiba!!! Será que ele será um homem da Educação?

Se for pelo Pe. Vilson ele será padre...rs...mas penso que não tenho vocação para ser mãe de padre...rs

Enfim, na formação tivemos um momento muito bonito preparado pelo Centro Social Curitiba sobre as Infâncias; a apresentação foi baseada na obra de Manoel e no documentário "Só 10% é mentira".

Giusepe estava bem quietinho durante todo o dia, mas foi as educadoras começarem a declamar as poesias de Manoel de Barros que ele já começou a se mexer dentro da minha barriga e não parou mais até o final da apresentação.

Sempre gostei de Manoel de Barros, mesmo na minha adolescência quando ainda não sabia ao certo quem era, mas quando eu já tinha vontade de "renovar os homens usando borboletas."

Fico feliz que Giusepe já tenha bom gosto literário e desejo que ele possa ser criança como nas palavras de Manoel. Prometo me esforçar diariamente para isso.

Abaixo alguns dos poemas de Manoel...

Abraço a todos!!!

O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA



Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que vazios são maiores
e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

o menino fazia prodígos.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.

 

OS DELIMITES DAS PALAVRAS


Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença
delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
-Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,
pode muito que você carregue para o resto da vida
um certo gosto por nadas. . .
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios , não anda em
estradas -
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de
agramática.


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